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Palavras de Francisco

PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

 

Cristãos de acção e de verdade

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 26 de 30 de Junho de 2013

 

Temos necessidade de cristãos de acção e de verdade, cuja vida se funda sobre a rocha de Jesus, e não de cristãos de palavras, superficiais como os gnósticos ou severos como os pelagianos, disse o Papa Francisco retomando um tema que muito lhe agrada, na missa celebrada na manhã de quinta-feira, 27 de Junho, na capela da Domus Sanctae Marthae. Concelebraram, entre outros, o cardeal Raymundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida e presidente da Conferência episcopal brasileira.

A reflexão do Papa, inspirada como de costume pelas leituras do dia, teve início em particular a partir do trecho do evangelho de Mateus (7, 21-29), no qual — explicou o Pontífice — o Senhor nos fala do nosso fundamento, a base da nossa vida cristã e diz-nos que este fundamento é a rocha. Isto significa que devemos construir a casa, ou seja, a nossa vida, sobre a rocha que é Cristo. Quando são Paulo fala sobre a rocha no deserto refere-se a Cristo, frisou o Papa. Ele é a única rocha que pode dar-nos segurança, a ponto que somos convidados a construir a nossa vida sobre esta rocha de Cristo. Não sobre outra.

E sobre a graça da paternidade centrou-se a reflexão do Papa Francisco durante a missa de quarta-feira 26 de Junho. O Pontífice recordou sobretudo que todos nós, para sermos maduros, devemos sentir a alegria da paternidade. Um discurso, acrescentou imediatamente, que é válido também no caso do celibato sacerdotal porque paternidade é dar a vida pelos outros: portanto, para os sacerdotes será «uma paternidade pastoral, a paternidade espiritual que é sempre e contudo «um dar a vida, tornar-se pai.

Na missa celebrada na manhã de 25 de Junho o Papa Francisco, referindo-se à luta pela terra entre Abraão e Lot, narrada no capítulo 13 do Génesis (2.5-18), frisou que o caminho para a paz no Médio Oriente é indicado pela sabedoria de Abraão, pai comum na fé para judeus, cristãos e muçulmanos. Quando leio isto, penso no Médio Oriente e peço tanto ao Senhor que nos dê a sabedoria, esta sabedoria: não nos confrontemos — tu ali, eu aqui — pela paz disse no início da homilia. Abraão, acrescentou, recorda-nos também que «ninguém é cristão por acaso, porque Deus nos chama pelo nome e com uma promessa.

Concelebraram, entre outros, os cardeais Camillo Ruini e Robert Sarah, presidente do Pontifício Conselho Cor Unum, que acompanhava um grupo de oficiais e colaboradores do dicastério.

Há uma promessa, recordou o Pontífice, na raiz da história de Abraão que se preparava para deixar a sua terra sem saber para onde ir, mas para onde o Senhor lhe teria indicado. O Santo Padre repercorreu as suas vicissitudes, a passagem pelo Egipto e, sobretudo, a disputa pela questão da terra e a paz com Lot. O Papa Francisco repetiu as belíssimas palavras de génesis: Então o Senhor disse a Abraão: “Ergue os olhos e, do lugar onde estás, dirige o olhar para norte e para sul”, em todas as direcções, tudo é teu, tudo será teu e da tua descendência.

 

Abraão, frisou o Pontífice, parte da sua terra com uma promessa. Todo o seu caminho é ir rumo a esta promessa. O seu percurso é também um modelo para o nosso. Deus chama Abraão, uma pessoa, e dela faz um povo. Se formos ao livro do Génesis, no início, à criação, poderemos constatar que Deus criou as estrelas, as plantas e os animais. Tudo no plural. Mas criou o homem: singular. Um. Deus fala-nos sempre no singular porque nos criou à sua imagem e semelhança. Deus fala-nos no singular, e falou a Abraão, fez-lhe uma promessa e convidou-o a sair da sua terra. Também nós cristãos — continuou o Papa — somos chamados no singular. Nenhum de nós é cristão por mero caso: ninguém. És chamado tu, tu e tu. É uma chamada pelo nome, com uma promessa: vai em frente, estou contigo, caminho ao teu lado.

Certamente, reconheceu, há muitos problemas, momentos difíceis. Também Jesus passou por tantos, mas sempre com aquela segurança: o Senhor chamou-me, está comigo, Ele fez-me uma promessa. Mas o Senhor errou em relação a mim? O Senhor é fiel, porque jamais poderá negar-se a si mesmo. Ele é a fidelidade. O Papa concluiu desejando que o Senhor dê a todos nós a mesma vontade de ir em frente que teve Abraão inclusive no meio das dificuldades. Ir em frente, com a segurança de Abraão, a certeza de que o Senhor me chamou, que me prometeu muitas coisas boas, que está comigo.

E na manhã de segunda-feira, 24 de Junho, festa litúrgica da natividade de São João Baptista, que a Igreja venera como o maior homem nascido de mulher, o Papa propôs uma Igreja que se inspire na figura do santo: que exista para proclamar, para ser voz de uma palavra, do seu esposo que é a palavra e para proclamar esta palavra até ao martírio» que lhe foi infligido pelos mais soberbos da terra. Com o Pontífice concelebrou, entre outros, o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura e da Pontifícia Comissão de Arqueologia Sacra, que acompanhava um grupo de oficiais e colaboradores das duas entidades.

CARTA ENCÍCLICA
LUMEN FIDEI
DO SUMO PONTÍFICE
FRANCISCO
AOS BISPOS
AOS PRESBÍTEROS E AOS DIÁCONOS
ÀS PESSOAS CONSAGRADAS
E A TODOS OS FIÉIS LEIGOS

SOBRE A FÉ

Link para acesso:

SANTA MISSA PELAS VÍTIMAS DOS NAUFRÁGIOS

HOMILIA DO SANTO PADRE FRANCISCO

Campo Desportivo "Arena" na Localidade Salina
Segunda-feira, 8 de Julho de 2013

 

Vídeo

 

Emigrantes mortos no mar; barcos que em vez de ser uma rota de esperança, foram uma rota de morte. Assim recitava o título dos jornais. Desde há algumas semanas, quando tive conhecimento desta notícia (que infelizmente se vai repetindo tantas vezes), o caso volta-me continuamente ao pensamento como um espinho no coração que faz doer. E então senti o dever de vir aqui hoje para rezar, para cumprir um gesto de solidariedade, mas também para despertar as nossas consciências a fim de que não se repita o que aconteceu. Que não se repita, por favor. Antes, porém, quero dizer uma palavra de sincera gratidão e encorajamento a vós, habitantes de Lampedusa e Linosa, às associações, aos voluntários e às forças de segurança, que tendes demonstrado – e continuais a demonstrar – atenção por pessoas em viagem rumo a qualquer coisa de melhor. Sois uma realidade pequena, mas ofereceis um exemplo de solidariedade! Obrigado! Obrigado também ao Arcebispo Dom Francesco Montenegro pela sua ajuda, o seu trabalho e a sua solidariedade pastoral. Saúdo cordialmente a Presidente da Câmara Senhora Giusi Nicolini, muito obrigado por aquilo que fez e faz. Desejo saudar os queridos emigrantes muçulmanos que hoje, à noite, começam o jejum do Ramadão, desejando-lhes abundantes frutos espirituais. A Igreja está ao vosso lado na busca de uma vida mais digna para vós e vossas famílias. A vós digo: oshià!

Nesta manhã quero, à luz da Palavra de Deus que escutamos, propor algumas palavras que sejam sobretudo uma provocação à consciência de todos, que a todos incitem a reflectir e mudar concretamente certas atitudes.

«Adão, onde estás?»: é a primeira pergunta que Deus faz ao homem depois do pecado. «Onde estás, Adão?». E Adão é um homem desorientado, que perdeu o seu lugar na criação, porque presume que vai tornar-se poderoso, poder dominar tudo, ser Deus. E quebra-se a harmonia, o homem erra; e o mesmo se passa na relação com o outro, que já não é o irmão a amar, mas simplesmente o outro que perturba a minha vida, o meu bem-estar. E Deus coloca a segunda pergunta: «Caim, onde está o teu irmão?» O sonho de ser poderoso, ser grande como Deus ou, melhor, ser Deus, leva a uma cadeia de erros que é cadeia de morte: leva a derramar o sangue do irmão!

Estas duas perguntas de Deus ressoam, também hoje, com toda a sua força! Muitos de nós – e neste número me incluo também eu – estamos desorientados, já não estamos atentos ao mundo em que vivemos, não cuidamos nem guardamos aquilo que Deus criou para todos, e já não somos capazes sequer de nos guardar uns com os outros. E, quando esta desorientação atinge as dimensões do mundo, chega-se a tragédias como aquela a que assistimos.

«Onde está o teu irmão? A voz do seu sangue clama até Mim», diz o Senhor Deus. Esta não é uma pergunta posta a outrem; é uma pergunta posta a mim, a ti, a cada um de nós. Estes nossos irmãos e irmãs procuravam sair de situações difíceis, para encontrarem um pouco de serenidade e de paz; procuravam um lugar melhor para si e suas famílias, mas encontraram a morte. Quantas vezes outros que procuram o mesmo não encontram compreensão, não encontram acolhimento, não encontram solidariedade! E as suas vozes sobem até Deus! Uma vez mais vos agradeço, habitantes de Lampedusa, pela solidariedade. Recentemente falei com um destes irmãos. Antes de chegar aqui, passaram pelas mãos dos traficantes, daqueles que exploram a pobreza dos outros, daquelas pessoas para quem a pobreza dos outros é uma fonte de lucro. Quanto sofreram! E alguns não conseguiram chegar.

«Onde está o teu irmão?» Quem é o responsável por este sangue? Na literatura espanhola, há uma comédia de Félix Lope de Vega, que conta como os habitantes da cidade de Fuente Ovejuna matam o Governador, porque é um tirano, mas fazem-no de modo que não se saiba quem realizou a execução. E, quando o juiz do rei pergunta «quem matou o Governador», todos respondem: «Fuente Ovejuna, senhor». Todos e ninguém! Também hoje assoma intensamente esta pergunta: Quem é o responsável pelo sangue destes irmãos e irmãs? Ninguém! Todos nós respondemos assim: não sou eu, não tenho nada a ver com isso; serão outros, eu não certamente. Mas Deus pergunta a cada um de nós: «Onde está o sangue do teu irmão que clama até Mim?» Hoje ninguém no mundo se sente responsável por isso; perdemos o sentido da responsabilidade fraterna; caímos na atitude hipócrita do sacerdote e do levita de que falava Jesus na parábola do Bom Samaritano: ao vermos o irmão quase morto na beira da estrada, talvez pensemos «coitado» e prosseguimos o nosso caminho, não é dever nosso; e isto basta para nos tranquilizarmos, para sentirmos a consciência em ordem. A cultura do bem-estar, que nos leva a pensar em nós mesmos, torna-nos insensíveis aos gritos dos outros, faz-nos viver como se fôssemos bolas de sabão: estas são bonitas mas não são nada, são pura ilusão do fútil, do provisório. Esta cultura do bem-estar leva à indiferença a respeito dos outros; antes, leva à globalização da indiferença. Neste mundo da globalização, caímos na globalização da indiferença. Habituamo-nos ao sofrimento do outro, não nos diz respeito, não nos interessa, não é responsabilidade nossa!

Reaparece a figura do «Inominado» de Alexandre Manzoni. A globalização da indiferença torna-nos a todos «inominados», responsáveis sem nome nem rosto.

«Adão, onde estás?» e «onde está o teu irmão?» são as duas perguntas que Deus coloca no início da história da humanidade e dirige também a todos os homens do nosso tempo, incluindo nós próprios. Mas eu queria que nos puséssemos uma terceira pergunta: «Quem de nós chorou por este facto e por factos como este?» Quem chorou pela morte destes irmãos e irmãs? Quem chorou por estas pessoas que vinham no barco? Pelas mães jovens que traziam os seus filhos? Por estes homens cujo desejo era conseguir qualquer coisa para sustentar as próprias famílias? Somos uma sociedade que esqueceu a experiência de chorar, de «padecer com»: a globalização da indiferença tirou-nos a capacidade de chorar! No Evangelho, ouvimos o brado, o choro, o grande lamento: «Raquel chora os seus filhos (...), porque já não existem». Herodes semeou morte para defender o seu bem-estar, a sua própria bola de sabão. E isto continua a repetir-se... Peçamos ao Senhor que apague também o que resta de Herodes no nosso coração; peçamos ao Senhor a graça de chorar pela nossa indiferença, de chorar pela crueldade que há no mundo, em nós, incluindo aqueles que, no anonimato, tomam decisões socioeconómicas que abrem a estrada aos dramas como este. «Quem chorou?» Quem chorou hoje no mundo?

Senhor, nesta Liturgia, que é uma liturgia de penitência, pedimos perdão pela indiferença por tantos irmãos e irmãs; pedimo-Vos perdão, Pai, por quem se acomodou, e se fechou no seu próprio bem-estar que leva à anestesia do coração; pedimo-Vos perdão por aqueles que, com as suas decisões a nível mundial, criaram situações que conduzem a estes dramas. Perdão, Senhor!

Senhor, fazei que hoje ouçamos também as tuas perguntas: «Adão, onde estás?» «Onde está o sangue do teu irmão?».

 

 

PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

Misericórdia, festa e memória

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 27 de 07 de Julho de 2013

«Deixemo-nos proteger pela misericórdia de Jesus; façamos festa» com ele; e mantenhamos viva a «memória», dado que na vida encontrámos «a salvação»: foi tríplice o convite que sobressaiu da reflexão do Papa Francisco durante a missa de sexta-feira, 5 de Julho, na capela da Domus Sanctae Marthae.

Entre os concelebrantes estava, entre outros, o cardeal Jorge Liberato Urosa Savino, arcebispo de Caracas, no dia da festa nacional na Venezuela. A seguir, o Pontífice comentou na homilia o trecho do Evangelho de Mateus (9, 9-13), que narra a conversão do mesmo autor, cobrador de impostos, que se tornou um dos doze. A mensagem de Jesus — explicou — foi retomada «pela tradição do povo de Israel. Uma mensagem profética, mas que o povo teve sempre dificuldade de compreender: quero misericórdia, não sacrifícios». Com efeito, o nosso é o Deus da misericórdia. Isso é evidente precisamente na vicissitude de Mateus, que «não é uma parábola»: é uma realidade «concreta; aconteceu».

O tema da liberdade dos filhos de Deus esteve no centro da homilia da missa celebrada na manhã de quinta-feira 4 de Julho. Ela é o fruto da reconciliação com o Pai actuada por Jesus, o qual assumiu sobre si os pecados de todos os homens e redimiu o mundo com a sua morte na cruz. Ninguém, frisou o Pontífice, nos pode privar desta identidade. Se existisse um «bilhete de identidade», disse o Papa, para os cristãos, certamente a liberdade estaria entre as suas principais características.

Reconciliar o mundo em Cristo em nome do Pai: «esta é a missão de Jesus. O resto, as curas, o ensinamento, as reprovações são só sinais daquele milagre mais profundo que é a recriação do mundo. Uma linda oração da Igreja diz: “Ó Senhor vós que criastes maravilhosamente o mundo, mais maravilhosamente o redimistes, recriastes”». Portanto, a reconciliação é recriação do mundo e a missão mais profunda de Jesus é a redenção de todos nós, pecadores. E «Jesus — acrescentou o Papa — faz isto não com palavras, nem com gestos ou caminhando nas ruas, não! Fá-lo com a sua carne. É precisamente Deus que se torna um de nós, homem, para nos curar a partir de dentro». Mas, perguntou-se o Pontífice, «podemos dizer que Jesus se fez pecador? Não é exactamente assim, porque ele não podia pecar. São Paulo diz a palavra justa: não se fez pecador, fez-se pecado (cf. 2 Cor 5, 21). Assumiu sobre si todo o pecado. E isto é bom, esta é a nova criação», é «Jesus que desce da glória e se humilha até à morte e morte de cruz. Esta é a sua glória e esta é a nossa salvação. E a cruz, no final, faz-se pecado (cf. ibid.)».

Pôr as mãos na carne de Jesus, pôr o dedo nas chagas de Jesus ressuscitado foi o tema central da homilia pronunciada durante a missa celebrada na manhã de quarta-feira, 3 de Julho. A festa de são Tomé apóstolo ofereceu ao Papa Francisco a ocasião para falar de novo sobre este tema que lhe é particularmente querido.

É preciso que saiamos de nós mesmos — frisou o Papa Francisco — e prossigamos nos caminhos do homem para descobrir que as chagas de Jesus são visíveis ainda hoje no corpo de todos aqueles irmãos que têm fome e sede, que estão nus, humilhados e escravos, que se encontram em prisões e hospitais. E precisamente ao tocar estas chagas, acariciando-as, é possível «adorar o Deus vivo no meio de nós».

O Santo Padre iniciou a homilia da missa de terça-feira, 2 de Julho, evidenciando precisamente a singularidade da liturgia do dia (Gn 19, 15-29; Sl 25; Mt 8, 23-27) que faz pensar em certas situações «conflituais», difíceis de enfrentar. Reflectir sobre elas, frisou, «far-nos-á bem». A tentação, a curiosidade, o temor e, por fim, a graça. São quatro situações que se podem verificar quando nos encontramos diante de uma dificuldade.

A primeira atitude pode ser indicada na lentidão com a qual Lot responde ao convite do anjo que lhe diz para se apressar a deixar a cidade, antes que seja destruída. A segunda atitude é tirada da narração da fuga de Lot. «O anjo — recordou o Papa — disse-lhe que não olhasse para trás: “Foge e não olhes para trás, vai em frente”. Também aqui está um conselho para superar a nostalgia do pecado». Contudo, às vezes não é suficiente superar a nostalgia «porque — advertiu o Papa Francisco — existe a tentação inclusive da curiosidade. Foi o que aconteceu com a esposa de Lot». Portanto, diante do pecado é preciso fugir sem nostalgia e recordar que «a curiosidade não serve, faz mal». Fugir e não olhar para trás, porque «todos somos frágeis e devemos defender-nos».

A terceira atitude sobre a qual o Papa Francisco falou é o temor. A referência é o episódio, narrado no evangelho de Mateus (8, 23-27), da barca na qual se encontram os apóstolos e que de repente é investida pela tempestade. «A barca estava coberta pelas ondas — recordou o Pontífice — “Salva-nos, Senhor! Estamos perdidos”, dizem. O temor é uma tentação do demónio. Ter medo de ir frente no caminho do Senhor».

A quarta atitude refere-se à graça do Espírito Santo, que se manifesta «quando Jesus faz voltar a bonança sobre o mar. E todos permanecem cheios de admiração». Portanto, diante do pecado, da nostalgia, do medo é necessário «olhar para o Senhor — evidenciou o Pontífice — contemplar o Senhor», conservando aquela «maravilha tão agradável de um novo encontro com o Senhor. “Senhor, sinto esta tentação, quero permanecer nesta situação de pecado. Senhor, tenho a curiosidade de saber como estão as coisas. Senhor, tenho medo...”, mas depois os discípulos olharam para o Senhor: “Salva-nos Senhor, estamos perdidos”. E veio a maravilha do novo encontro com Jesus. Não sejamos ingénuos nem tíbios: sejamos valorosos, corajosos. Sim, somos débeis mas devemos ser corajosos na nossa fragilidade».

Na missa celebrada a 1 de Julho o Pontífice exortou a reflectir sobre a coragem de negociar com o Senhor. Se se quiser obter algo de Deus é necessário ter a coragem de «negociar» com Ele através de uma oração insistente e convicta, feita de poucas palavras, melhor se forem as do Salmo 102. O Papa Francisco voltou a falar sobre a coragem que deve amparar a oração dirigida ao Pai, com «toda a familiaridade possível». E citou como exemplo a oração de Abraão, o seu modo de falar com Deus como se estivesse a negociar, exactamente, com outro homem. E concluiu a homilia exortando a que «a partir de hoje todos nós por 5 minutos durante o dia recitemos lentamente o Salmo 102, o mesmo que recitámos entre as duas leituras. «Bendiz, ó minha alma, o Senhor, e toda a minha vida interior, o seu santo Nome; bendiz, ó minha alma, o Senhor, e não esqueças todos os seus benefícios. É Ele quem perdoa as tuas culpas, e sara todas as tuas enfermidades; é Ele quem resgata a tua vida do túmulo, e te coroa de graças e bondade». Rezemo-lo inteiramente. E assim aprenderemos o que devemos dizer ao Senhor, quando pedimos uma graça».

 

 

Homilia do Papa Francisco
Santa Missa pela XXVIII Jornada Mundial da Juventude
Rio de Janeiro
Domingo, 28 de julho de 2013

Venerados e amados Irmãos no episcopado e no sacerdócio,

Queridos jovens!

«Ide e fazei discípulos entre todas as nações». Com estas palavras, Jesus se dirige a cada um de vocês, dizendo: «Foi bom participar nesta Jornada Mundial da Juventude, vivenciar a fé junto com jovens vindos dos quatro cantos da terra, mas agora você deve ir e transmitir esta experiência aos demais». Jesus lhe chama a ser um discípulo em missão! Hoje, à luz da Palavra de Deus que acabamos de ouvir, o que nos diz o Senhor? Três palavras: Ide, sem medo, para servir.

1. Ide. Durante estes dias, aqui no Rio, vocês puderam fazer a bela experiência de encontrar Jesus e de encontrá-lo juntos, sentindo a alegria da fé. Mas a experiência deste encontro não pode ficar trancafiada na vida de vocês ou no pequeno grupo da paróquia, do movimento, da comunidade de vocês. Seria como cortar o oxigênio a uma chama que arde. A fé é uma chama que se faz tanto mais viva quanto mais é partilhada, transmitida, para que todos possam conhecer, amar e professar que Jesus Cristo é o Senhor da vida e da história (cf. Rm 10,9).

Mas, atenção! Jesus não disse: se vocês quiserem, se tiverem tempo, mas: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações». Partilhar a experiência da fé, testemunhar a fé, anunciar o Evangelho é o mandato que o Senhor confia a toda a Igreja, também a você. É uma ordem sim; mas não nasce da vontade de domínio ou de poder, nasce da força do amor, do fato que Jesus foi quem veio primeiro para junto de nós e nos deu não somente um pouco de Si, mas se deu por inteiro, deu a sua vida para nos salvar e mostrar o amor e a misericórdia de Deus. Jesus não nos trata como escravos, mas como homens livres, amigos, como irmãos; e não somente nos envia, mas nos acompanha, está sempre junto de nós nesta missão de amor.
Para onde Jesus nos manda? Não há fronteiras, não há limites: envia-nos para todas as pessoas. O Evangelho é para todos, e não apenas para alguns. Não é apenas para aqueles que parecem a nós mais próximos, mais abertos, mais acolhedores. É para todas as pessoas. Não tenham medo de ir e levar Cristo para todos os ambientes, até as periferias existenciais, incluindo quem parece mais distante, mais indiferente. O Senhor procura a todos, quer que todos sintam o calor da sua misericórdia e do seu amor.

De forma especial, queria que este mandato de Cristo -”Ide” – ressoasse em vocês, jovens da Igreja na América Latina, comprometidos com a Missão Continental promovida pelos Bispos. O Brasil, a América Latina, o mundo precisa de Cristo! Paulo exclama: «Ai de mim se eu não pregar o evangelho!» (1Co 9,16). Este Continente recebeu o anúncio do Evangelho, que marcou o seu caminho e produziu muito fruto. Agora este anúncio é confiado também a vocês, para que ressoe com uma força renovada. A Igreja precisa de vocês, do entusiasmo, da criatividade e da alegria que lhes caracterizam! Um grande apóstolo do Brasil, o Bem-aventurado José de Anchieta, partiu em missão quando tinha apenas dezenove anos! Sabem qual é o melhor instrumento para evangelizar os jovens? Outro jovem! Este é o caminho a ser percorrido!

2. Sem medo. Alguém poderia pensar: «Eu não tenho nenhuma preparação especial, como é que posso ir e anunciar o Evangelho»? Querido amigo, esse seu temor não é muito diferente do sentimento que teve Jeremias, um jovem como vocês, quando foi chamado por Deus para ser profeta. Acabamos de escutar as suas palavras: «Ah! Senhor Deus, eu não sei falar, sou muito novo». Deus responde a vocês com as mesmas palavras dirigidas a Jeremias: «Não tenhas medo… pois estou contigo para defender-te» (Jr 1,8). Deus está conosco!
«Não tenham medo!» Quando vamos anunciar Cristo, Ele mesmo vai à nossa frente e nos guia. Ao enviar os seus discípulos em missão, Jesus prometeu: «Eu estou com vocês todos os dias» (Mt 28,20). E isto é verdade também para nós! Jesus não nos deixa sozinhos, nunca lhes deixa sozinhos! Sempre acompanha a vocês!

Além disso, Jesus não disse: «Vai», mas «Ide»: somos enviados em grupo. Queridos jovens, sintam a companhia de toda a Igreja e também a comunhão dos Santos nesta missão. Quando enfrentamos juntos os desafios, então somos fortes, descobrimos recursos que não sabíamos que tínhamos. Jesus não chamou os Apóstolos para viver isolados, chamou-lhes para que formassem um grupo, uma comunidade. Queria dar uma palavra também a vocês, queridos sacerdotes, que concelebram comigo esta Eucaristia: vocês vieram acompanhando os seus jovens, e é uma coisa bela partilhar esta experiência de fé! Mas esta é uma etapa do caminho. Continuem acompanhando os jovens com generosidade e alegria, ajudem-lhes a se comprometer ativamente na Igreja; que eles nunca se sintam sozinhos!

3. A última palavra: para servir. No início do salmo proclamado, escutamos estas palavras: «Cantai ao Senhor Deus um canto novo» (Sl 95, 1). Qual é este canto novo? Não são palavras, nem uma melodia, mas é o canto da nossa vida, é deixar que a nossa vida se identifique com a vida de Jesus, é ter os seus sentimentos, os seus pensamentos, as suas ações. E a vida de Jesus é uma vida para os demais. É uma vida de serviço.

São Paulo, na leitura que ouvimos há pouco, dizia: «Eu me tornei escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível» (1 Cor 9, 19). Para anunciar Jesus, Paulo fez-se «escravo de todos». Evangelizar significa testemunhar pessoalmente o amor de Deus, significa superar os nossos egoísmos, significa servir, inclinando-nos para lavar os pés dos nossos irmãos, tal como fez Jesus.

Ide, sem medo, para servir. Seguindo estas três palavras, vocês experimentarão que quem evangeliza é evangelizado, quem transmite a alegria da fé, recebe alegria. Queridos jovens, regressando às suas casas, não tenham medo de ser generosos com Cristo, de testemunhar o seu Evangelho. Na primeira leitura, quando Deus envia o profeta Jeremias, lhe dá o poder de «extirpar e destruir, devastar e derrubar, construir e plantar» (Jr 1,10). E assim é também para vocês. Levar o Evangelho é levar a força de Deus, para extirpar e destruir o mal e a violência; para devastar e derrubar as barreiras do egoísmo, da intolerância e do ódio; para construir um mundo novo. Jesus Cristo conta com vocês! A Igreja conta com vocês! O Papa conta com vocês! Que Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, lhes acompanhe sempre com a sua ternura: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações». Amém.

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